Todas Guerras são travadas em mais de um campo, assim temos a batalha propriamente dita em campo de batalha por espaço geográfico e a luta política, na junção destes dois aspectos temos a luta geopolítica. A Rússia desde o início da Guerra na Ucrânia deixou claro alguns objetivos políticos para iniciar a invasão ao território ucraniano, porém os objetivos geopolíticos ficam sempre a mercê das análises de estudiosos das guerras e agências de inteligência.
No aniversário de um ano da Guerra na Ucrânia podemos destacar que os objetivos geográficos da Rússia não foram os melhores, as forças terrestres são as buchas de canhão em um campo de xadrez muito mais complexo, para compreender podemos visualizar rapidamente a movimentação Russa no território da Ucrânia neste ano de Guerra.
A Rússia não tem o domínio aéreo
do território ucraniano, tampouco a infantaria e blindados tem a cobertura da
artilharia, significando em uma amplificação de baixas militares. As forças
militares russas acabaram demonstrando diversas falhas de planejamento e falta
de engajamento na batalha, mas não é muito diferente da invasão americana no
Iraque e no Afeganistão, apenas destacando que essa guerra é muito mais uma
cartada importante de geopolítica Russa do que de fato em posições geográficas,
explicarei em seguida.
O pais ucraniano foi
completamente desestabilizado pela Guerra, mesmo com a ajuda do ocidente a
situação de governo é bastante inviável, pois, áreas ricas do país estão sob
controle russo, significando em uma dependência externa enorme da Ucrânia
perante o ocidente. Em contrapartida as jogadas de Putin no plano econômico até
o momento têm surtido efeitos e a Rússia consegue se manter no plano
internacional, por ter aliados não de armas, mas por assuntos geopolíticos semelhantes
como a Turquia e a China.
“Importante
abrir um parêntesis sobre o Brasil a relação diplomática com está Guerra. Ao apenas
declarar ser contra a invasão e não efetivamente apoiar com envio de materiais
militares a Ucrânia, acabamos por fortalecer os laços com a Rússia, ou seja,
nem mesmo a omissão é perdoada aos olhos da geopolítica e demonstram em certa
medida o apoio para evitar problemas comerciais. ”
Como é possível entender que no noticiário só vemos notícias positivas da resistência ucraniana e de baixas militares russas, em contrapartida a uma vitória no campo geopolítico por parte da Rússia?
Preliminarmente é importante
entender que o mundo que vivemos é uma herança do pós 2º Guerra Mundial e alguns
outros conflitos que se desenrolaram, isso impactando em menor ou maior grau os
países a depender de suas posições geográficas. Sendo assim podemos colocar a Rússia
em um plano de outros conflitos que também influenciaram na atualidade, mas
realizando uma conexão direta com a Ucrânia o que posso destacar é a Ucrânia sendo
utilizada como bucha de canhão novamente para o atingimento de outros planos
estratégicos.
“Outro parêntesis
é sobre a História da Ucrânia e sua formação geográfica e cultural, de fato é
um país que foi formado como Rússia, é um mesmo povo em sua formação originária
só ocorrendo a separação como nações diferentes após a dissolução da URSS. Vale
ressaltar que isso não valida a invasão da Rússia, pois, a Ucrânia atual é um
país independente e dentro da legalidade do Direito Internacional, ou seja,
apesar de terem origem comum atualmente são países diferentes e com soberania,
passar por cima dessa premissa colocaria o mundo sobre instabilidades
geopolíticas já superadas que poderiam reacender chamas de novas Guerras
extremamente mortíferas.
Apesar de aparecer como um herói da
nação ucraniana o atual presidente Volodymyr Zelensky é um dos frutos de contra
inteligência mais bem posicionados do mundo, ou seja, a ascensão do perfil, do
discurso e de sua ideologia fortaleceu uma justificativa pró Kremlin sobre a
desestabilização política da Ucrânia. Nesta toada a Ucrânia que foi bucha de
canhão algumas vezes por ser estratégica tanto geograficamente como em sua
capacidade produtiva, empurrou a si mesma para uma Guerra que vinha se cisalhando
entre a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a Rússia.
Um passo aparentemente equivocado
da OTAN foi não estudar a história do território ucraniano e entender que a
Rússia não aceitaria passivamente perder a influência naquele território, ali
jaz uma herança da segunda guerra mundial e União das Repúblicas Soviéticas
(URSS) que vinha sendo ressuscitado pela OTAN, da mesma medida países como
Turquia e China se levantaram para se posicionarem como mediadoras quando na
verdade querem mesmo é destacar que também tem situações mal resolvidas (cada
um em sua própria perspectiva).
Com o avanço da OTAN na política
ucraniana e a eleição de um presidente de direita que se aproveitava para utilizar
em certa medida dos grupos nazistas (treinados, armados e posicionados) a direção
seria bastante evidente rumo a uma influência pró União Européia, desta forma, a
alegação que a política interna da Ucrânia movimentaria o país a reformas que a
aproximariam da Europa Ocidental, que uma vez feitas seriam difíceis de serem
reformadas pró Kremlin, como aconteceu na Lituânia e outros países ex-URSS. A
Rússia interpretou como uma espécie de oportunidade de se reposicionar no cenário
internacional, algo que foi possível se aliando politicamente a China e Turquia.
“Tudo que
estou escrevendo tem desdobramentos que no momento não estão sendo aprofundados
e cada país tem suas perspectivas, ou seja, a Lituânia tem uma perspectiva em
sua geopolítica de pós segunda guerra que é diferente da ucraniana, ocorrendo
variações para cada território, na mesma medida a Turquia está claramente
posicionada politicamente mais próxima do Kremlin, entretanto, vendeu Drones de
combate aos Ucranianos, algo que está representando grandes baixas aos Russos, porém
o foco é a questão ucraniana e em momento oportuno aprofundo em outras questões
que são influentes na geopolítica.
Mas o que a Rússia poderia impor
a nação ucraniana de forma política que seja razoável?
Tudo, pois a Ucrânia não é a
Lituânia, sendo assim destacou que esse território ou estaria alinhado a
geopolítica do Kremlin ou estaria completamente desestabilizado, assumindo o
seu papel de potência regional, não é diferente da política francesa, inglesa, alemã
ou americana. Quando o assunto é influência e as determinantes geopolíticas
todas potências utilizam a força para impor seus desejos.
O encaixe de um presidente da direita
e de grupos de fato Nazistas na composição do exército ucraniano formaram
apenas uma justificativa para o cidadão comum da Rússia que seria necessária a intervenção
para desnazificação, defesa das fronteiras nacionais devido a possibilidade de
instalação de equipamentos militares da OTAN e defesa de comunidades de cultura
russa. No plano geopolítico o avanço do ocidente com a OTAN significou a represália
Russa em defesa de seu posto de influência.
Com isto a opção Russa foi
desestabilizar o território ucraniano e dividir para conquistar, ou seja, a
massiva de investimentos militares do ocidente na resistência tem um resultado
que é limitado a impedir que a Rússia subjugue completamente o território,
porém, a Rússia tem êxito em deixar um ambiente instável que acabou se
transformando no seu objetivo.
As mortes e grandes baixas
militares russas podem ser de impacto ao orgulho e imagem, sendo contrastadas
pela condenação das autoridades russas aos investimentos do ocidente na
resistência ucraniana, tal posicionamento midiático é mais para manter o
soldado russo no campo de batalha ainda com algum brio, porque no campo
geopolítico está guerra é apenas para destacar que a Ucrânia nunca será
integrante da OTAN e da União Européia, meta já concluída pela Rússia com
sucesso.
Assim a Ucrânia não fará parte da
OTAN e da União Européia e é fato já consolidado entre as grandes potências,
com isso fortalecerá o entendimento que a Guerra deve acabar com um acordão que
consequentemente colocará novamente no mínimo um Governo mais alinhado ao Kremlin,
fortificando o entendimento que seria a única saída mais razoável apesar de
todo desejo de transformação do povo ucraniano, povo novamente subjugado a sua
má sorte geográfica.
E as mortes?
Como em todas as guerras as mortes
na linha de frente rapidamente são colocadas como desnecessárias, afinal, no
caso ucraniano um governo minimamente alinhado ao Kremlin traria um resultado de
não agressão russa e estabilidade ao território, ou seja, o campo de batalha
está sendo utilizado apenas como um jogo de cartas marcadas por sangue e que
levaram consequentemente a conclusões que Rússia também se posicionará como
potência regional sempre que for confrontada.
O posicionamento russo como
potência regional não significa que não tenha dado as suas cartadas
internacionais, como na questão Síria e na África (com o Grupo paramilitar Wagner).
Outras questões desta guerra são as execuções que ocorreram por parte da
Rússia, entrando em um conflito de interesses entre o grupo paramilitar Wagner
(este presente na África que apesar do Governo Russo informar não ter relação,
é visível a todos o envolvimento do líder do grupo com o próprio presidente
Putin) e o próprio exército oficial, mas não é muito diferente de outras
potências quando começam a utilizar grupos privados para fazer o que não podem oficialmente
concretizar (temos exemplo como a Legião Francesa e o frequente financiamento
de Rebeldes por Agências de Inteligência com intuitos de desestabilizar regiões
como no caso da Primavera Árabe). Mas cada um desses temas cabe uma análise
específica por terem grandes desdobramentos Geopolíticos, ficando para um
momento oportuno.
Se você tem dúvidas do que é a
OTAN, URSS, das heranças deixadas pelas Grandes Guerras Mundiais ou outros conflitos,
siga nossa página que postaremos material enriquecedor sobre estes assuntos,
cabendo ao leitor o discernimento sobre os desdobramentos atuais na
geopolítica.
Forte abraço Camaradas!