terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

A vitória Geopolítica Russa na Guerra da Ucrânia

Borodyanka, perto de Kiev, 03/03/2022 
 Foto: Maksim Levin/Reuters
A invasão do território Ucraniano por forças Russas está no centro do debate geopolítico mundial, mas o que pode ser observado sobre está Guerra em curso após um ano de batalhas (Início da invasão russa: 24/02/2022)?

Todas Guerras são travadas em mais de um campo, assim temos a batalha propriamente dita em campo de batalha por espaço geográfico e a luta política, na junção destes dois aspectos temos a luta geopolítica. A Rússia desde o início da Guerra na Ucrânia deixou claro alguns objetivos políticos para iniciar a invasão ao território ucraniano, porém os objetivos geopolíticos ficam sempre a mercê das análises de estudiosos das guerras e agências de inteligência.


No aniversário de um ano da Guerra na Ucrânia podemos destacar que os objetivos geográficos da Rússia não foram os melhores, as forças terrestres são as buchas de canhão em um campo de xadrez muito mais complexo, para compreender podemos visualizar rapidamente a movimentação Russa no território da Ucrânia neste ano de Guerra.

 

A Rússia não tem o domínio aéreo do território ucraniano, tampouco a infantaria e blindados tem a cobertura da artilharia, significando em uma amplificação de baixas militares. As forças militares russas acabaram demonstrando diversas falhas de planejamento e falta de engajamento na batalha, mas não é muito diferente da invasão americana no Iraque e no Afeganistão, apenas destacando que essa guerra é muito mais uma cartada importante de geopolítica Russa do que de fato em posições geográficas, explicarei em seguida.

 

O pais ucraniano foi completamente desestabilizado pela Guerra, mesmo com a ajuda do ocidente a situação de governo é bastante inviável, pois, áreas ricas do país estão sob controle russo, significando em uma dependência externa enorme da Ucrânia perante o ocidente. Em contrapartida as jogadas de Putin no plano econômico até o momento têm surtido efeitos e a Rússia consegue se manter no plano internacional, por ter aliados não de armas, mas por assuntos geopolíticos semelhantes como a Turquia e a China.

 

“Importante abrir um parêntesis sobre o Brasil a relação diplomática com está Guerra. Ao apenas declarar ser contra a invasão e não efetivamente apoiar com envio de materiais militares a Ucrânia, acabamos por fortalecer os laços com a Rússia, ou seja, nem mesmo a omissão é perdoada aos olhos da geopolítica e demonstram em certa medida o apoio para evitar problemas comerciais. ”

 

Como é possível entender que no noticiário só vemos notícias positivas da resistência ucraniana e de baixas militares russas, em contrapartida a uma vitória no campo geopolítico por parte da Rússia?


Preliminarmente é importante entender que o mundo que vivemos é uma herança do pós 2º Guerra Mundial e alguns outros conflitos que se desenrolaram, isso impactando em menor ou maior grau os países a depender de suas posições geográficas. Sendo assim podemos colocar a Rússia em um plano de outros conflitos que também influenciaram na atualidade, mas realizando uma conexão direta com a Ucrânia o que posso destacar é a Ucrânia sendo utilizada como bucha de canhão novamente para o atingimento de outros planos estratégicos.

 

“Outro parêntesis é sobre a História da Ucrânia e sua formação geográfica e cultural, de fato é um país que foi formado como Rússia, é um mesmo povo em sua formação originária só ocorrendo a separação como nações diferentes após a dissolução da URSS. Vale ressaltar que isso não valida a invasão da Rússia, pois, a Ucrânia atual é um país independente e dentro da legalidade do Direito Internacional, ou seja, apesar de terem origem comum atualmente são países diferentes e com soberania, passar por cima dessa premissa colocaria o mundo sobre instabilidades geopolíticas já superadas que poderiam reacender chamas de novas Guerras extremamente mortíferas. 

 

Apesar de aparecer como um herói da nação ucraniana o atual presidente Volodymyr Zelensky é um dos frutos de contra inteligência mais bem posicionados do mundo, ou seja, a ascensão do perfil, do discurso e de sua ideologia fortaleceu uma justificativa pró Kremlin sobre a desestabilização política da Ucrânia. Nesta toada a Ucrânia que foi bucha de canhão algumas vezes por ser estratégica tanto geograficamente como em sua capacidade produtiva, empurrou a si mesma para uma Guerra que vinha se cisalhando entre a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a Rússia.

 

Um passo aparentemente equivocado da OTAN foi não estudar a história do território ucraniano e entender que a Rússia não aceitaria passivamente perder a influência naquele território, ali jaz uma herança da segunda guerra mundial e União das Repúblicas Soviéticas (URSS) que vinha sendo ressuscitado pela OTAN, da mesma medida países como Turquia e China se levantaram para se posicionarem como mediadoras quando na verdade querem mesmo é destacar que também tem situações mal resolvidas (cada um em sua própria perspectiva).

 

Com o avanço da OTAN na política ucraniana e a eleição de um presidente de direita que se aproveitava para utilizar em certa medida dos grupos nazistas (treinados, armados e posicionados) a direção seria bastante evidente rumo a uma influência pró União Européia, desta forma, a alegação que a política interna da Ucrânia movimentaria o país a reformas que a aproximariam da Europa Ocidental, que uma vez feitas seriam difíceis de serem reformadas pró Kremlin, como aconteceu na Lituânia e outros países ex-URSS. A Rússia interpretou como uma espécie de oportunidade de se reposicionar no cenário internacional, algo que foi possível se aliando politicamente a China e Turquia.  

 

“Tudo que estou escrevendo tem desdobramentos que no momento não estão sendo aprofundados e cada país tem suas perspectivas, ou seja, a Lituânia tem uma perspectiva em sua geopolítica de pós segunda guerra que é diferente da ucraniana, ocorrendo variações para cada território, na mesma medida a Turquia está claramente posicionada politicamente mais próxima do Kremlin, entretanto, vendeu Drones de combate aos Ucranianos, algo que está representando grandes baixas aos Russos, porém o foco é a questão ucraniana e em momento oportuno aprofundo em outras questões que são influentes na geopolítica. 

 

Mas o que a Rússia poderia impor a nação ucraniana de forma política que seja razoável?


Tudo, pois a Ucrânia não é a Lituânia, sendo assim destacou que esse território ou estaria alinhado a geopolítica do Kremlin ou estaria completamente desestabilizado, assumindo o seu papel de potência regional, não é diferente da política francesa, inglesa, alemã ou americana. Quando o assunto é influência e as determinantes geopolíticas todas potências utilizam a força para impor seus desejos.

 

O encaixe de um presidente da direita e de grupos de fato Nazistas na composição do exército ucraniano formaram apenas uma justificativa para o cidadão comum da Rússia que seria necessária a intervenção para desnazificação, defesa das fronteiras nacionais devido a possibilidade de instalação de equipamentos militares da OTAN e defesa de comunidades de cultura russa. No plano geopolítico o avanço do ocidente com a OTAN significou a represália Russa em defesa de seu posto de influência.

 

Com isto a opção Russa foi desestabilizar o território ucraniano e dividir para conquistar, ou seja, a massiva de investimentos militares do ocidente na resistência tem um resultado que é limitado a impedir que a Rússia subjugue completamente o território, porém, a Rússia tem êxito em deixar um ambiente instável que acabou se transformando no seu objetivo.

 

As mortes e grandes baixas militares russas podem ser de impacto ao orgulho e imagem, sendo contrastadas pela condenação das autoridades russas aos investimentos do ocidente na resistência ucraniana, tal posicionamento midiático é mais para manter o soldado russo no campo de batalha ainda com algum brio, porque no campo geopolítico está guerra é apenas para destacar que a Ucrânia nunca será integrante da OTAN e da União Européia, meta já concluída pela Rússia com sucesso.

 

Assim a Ucrânia não fará parte da OTAN e da União Européia e é fato já consolidado entre as grandes potências, com isso fortalecerá o entendimento que a Guerra deve acabar com um acordão que consequentemente colocará novamente no mínimo um Governo mais alinhado ao Kremlin, fortificando o entendimento que seria a única saída mais razoável apesar de todo desejo de transformação do povo ucraniano, povo novamente subjugado a sua má sorte geográfica.

 

E as mortes?

 

Como em todas as guerras as mortes na linha de frente rapidamente são colocadas como desnecessárias, afinal, no caso ucraniano um governo minimamente alinhado ao Kremlin traria um resultado de não agressão russa e estabilidade ao território, ou seja, o campo de batalha está sendo utilizado apenas como um jogo de cartas marcadas por sangue e que levaram consequentemente a conclusões que Rússia também se posicionará como potência regional sempre que for confrontada.

 

O posicionamento russo como potência regional não significa que não tenha dado as suas cartadas internacionais, como na questão Síria e na África (com o Grupo paramilitar Wagner). Outras questões desta guerra são as execuções que ocorreram por parte da Rússia, entrando em um conflito de interesses entre o grupo paramilitar Wagner (este presente na África que apesar do Governo Russo informar não ter relação, é visível a todos o envolvimento do líder do grupo com o próprio presidente Putin) e o próprio exército oficial, mas não é muito diferente de outras potências quando começam a utilizar grupos privados para fazer o que não podem oficialmente concretizar (temos exemplo como a Legião Francesa e o frequente financiamento de Rebeldes por Agências de Inteligência com intuitos de desestabilizar regiões como no caso da Primavera Árabe). Mas cada um desses temas cabe uma análise específica por terem grandes desdobramentos Geopolíticos, ficando para um momento oportuno.

 

Se você tem dúvidas do que é a OTAN, URSS, das heranças deixadas pelas Grandes Guerras Mundiais ou outros conflitos, siga nossa página que postaremos material enriquecedor sobre estes assuntos, cabendo ao leitor o discernimento sobre os desdobramentos atuais na geopolítica.

 

Forte abraço Camaradas!


Por Jeferson Nascimento 
Colunista e Editor do Mídias Populares