Na data de 19 de fevereiro de
2023 ocorreu o maior volume de chuva (600 mm) da história da cidade de São
Paulo, foi concentrado na cidade de São Sebastiao, onde a temperatura do mar
criou um ambiente que a precipitação em tal escala fosse possível, as pessoas
foram levadas na enxurrada de água, lama e tudo que estava em sua frente.
Na cidade de Ubatuba tivemos a
morte de uma criança e na cidade de São Sebastião 65 mortes e uma pessoa que
permanece desaparecida, concentradas na Vila do Sahy um bairro da praia Barra
do Sahy, mas qual o motivo de tantas mortes em uma localidade?
Este bairro das mortes tinha
localidades de risco e que estavam proibidas novas construções, entretanto as
mortes não ocorreram apenas nas áreas delimitadas de proibição, ocorrendo mortes
em outros pontos do bairro.
A Praia da Barra do Sahy é uma
das belas partes do litoral norte de São Paulo, com lindas mansões e condomínios
particulares, porém, apesar de sofrerem com inundações e destruição causadas
pelas chuvas e enxurrada, as mortes não se localizaram nas partes ricas da
praia. Todas as mortes ocorreram no bairro da Vila do Sahy onde os
trabalhadores daquela região residiam, ou seja, apesar de não existir o
funcionamento da cidade sem os trabalhadores os mesmos foram cada vez mais
empurrados para os bairros de risco frente aos valores imobiliários das praias
do litoral norte de São Paulo.
Apesar do Município ter a ciência
e responder a ações judiciais sobre a moradia na região de risco que o bairro
se localizava, o andamento da solução de construção de casas populares não saiu
da estaca zero, com baixo engajamento de todas as esferas políticas (Municipal,
Estadual e Federal) para solução.
Mas qual o motivo dos
trabalhadores de menor renda não serem o foco das políticas públicas de
habitação?
Importante
destacar que a situação de risco era conhecida, logo, a tragédia era evitável.
Não existe
justificativa religiosa ou divina para uns escaparem e outros serem acometidos
neste caso, foi simplesmente por questão social, não utilize a religião para
buscar justificar quem se livrou de algo quando crianças foram mortas (18
crianças morreram soterradas) por omissão política.
Deus não é
Nazista!
Esse é um
problema de todos os brasileiros e uma responsabilidade política que todos vem
contribuindo até gerar tais resultados. Por exemplo, nos atemos mais nos
últimos debates políticos e nosso cotidiano sobre doutrinação pedagógica nas
escolas do que com políticas habitacionais para os trabalhadores de baixa
renda.
A especulação imobiliária tem a
sua importância, desde que continue fomentando empregos e aquecendo as
economias regionais, porém, políticas públicas em todos os níveis estatais
(municipal, estadual e federal) devem ser implementadas com foco em limitar o
impacto social aos trabalhadores de baixa renda.
O preço dos imóveis e dos
aluguéis é enorme em regiões de alta especulação, enquanto isso os
trabalhadores destas regiões são forçados a morar em bairros mais baratos, que
neste caso estão em áreas de alto risco de vida. Vale ressaltar que as mortes são
de trabalhadores e familiares de trabalhadores dos comércios das regiões de
alto valor da Praia do Sahy.
Precisamos de políticas que
coloquem os pobres no centro e não a distância, não adianta construir moradias
populares que distanciem os trabalhadores de seus postos de trabalho, mas sim os
aproximem. Para tanto os políticos precisam comprar brigas com o mercado imobiliário
em impor certas condições. Com tranquilidade a construção de moradias populares
em bairros de alto valor comercial não serão aceitas, pois, utilizam todos os
meios de influência para evitarem a evolução de tais projetos, por isso se faz
necessário um Estado que se preocupe e combata de frente as causas dos
trabalhadores.
A moradia,
alimentação, educação, saúde e trabalho são das pautas mais impactantes na vida
dos trabalhadores e seus familiares.
Conforme é
destacado na nossa Carta Magna (Constituição Federal de 1988) em seu art. 6º:
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
Mas como atingimos um Estado que
seja capaz de realizar tais ações?
Todos os brasileiros precisam
entender que a política apesar de em muitos casos aparentar apenas uma opinião,
não é, desta forma o posicionamento de cada cidadão e principalmente das
figuras públicas sobre as questões importantes do país são de extrema
importância, ficar fazendo piada sobre tais questões elevam o nível de falta de
comprometimento dos cidadãos do país com causas relevantes. Independente do
extrato social que cada pessoa esteja é dever de todos pensarmos no conjunto e
principalmente nas pessoas menos favorecidas da sociedade e em suas necessidades
nas políticas públicas com foco na construção de vidas mais dignas, o sucesso
só virar se todos pensarmos conjuntamente assim, caso contrário nunca seremos
um país igualitário e sim manteremos a referência em desigualdade social.
De suma importância destacar que
desde o Governo Michel Temer (2016-2018) com manutenção no Governo de Jair
Bolsonaro (2019-2022) o Brasil vem dilacerando Direitos Trabalhistas e Demais
Direitos Sociais, entramos na ladeira novamente do projeto de minar tudo que
seja focado aos trabalhadores em favorecimento de setores mais ricos,
desaquecendo a economia, enfraquecendo e destruindo os poucos
Direitos Sociais que buscavam trazer maior dignidade a tais. Não me entenda
como contrário a Capitalismo, não é isso, sou contrário a Projetos que busquem
transformar falsamente o papel dos trabalhadores em "empreendedores" e culpados
por todas as mazelas sociais da nossa sociedade. Entender que somos
trabalhadores e não apenas colaboradores é fundamental para compreender que necessitamos
de um Estado forte politicamente e capaz de defender e impor as condições
necessárias para elevação da qualidade de vida de todos os trabalhadores, algo
que infelizmente o mercado vem de todos os modos criando versões, políticas e
mentiras para desviar o foco de toda população, portanto, atenção trabalhadores
em seu papel e responsabilidade sócio-política perante a nossa sociedade.