Foto de Antonio Gramsci |
Atualmente na internet o que não faltam são os sabichões sobre a política implementada na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), como se apenas existiu autoritarismo dentro e depois do comando do Stalin, outro ponto é que não busco advogar e sim elucidar ao conhecimento popular sobre os meandros de implementação de projetos extremistas.
Indo direto ao ponto, pois, irei deixar o link para leitura da carta redigida pelo Gramsci do PCI (Partido Comunista Italiano) a Togliatti do PCS (Partido Comunista Soviético), o último ocultou a existência da carta até 1968 pouco antes da morte mesmo já tendo sido publicada pelo PCI em 1938 por Angelo Tasca.
Antes cabe falarmos sobre Antonio Gramsci, camarada italiano membro fundador e secretário geral do PCI (Partido Comunista Italiano), foi eleito Deputado pelo distrito de Veneto, filósofo marxista, político, escritor, jornalista e dentre outros títulos que são atribuídos ao seu intelecto afinado.
Sobre o momento político da URSS que fomentou a escrita de Gramsci, importantes comentários¹:
"Cabe aqui recordar, ainda que brevemente, o que estava em jogo na dura disputa em curso no PCUS. Além da discussão sobre o regime interno do Partido (com a oposição advogando mais amplo espaço para o debate e a democracia internos), maioria se opunham sobre a continuidade ou não da Nova Política Econômica (NEP), que - adotada em 1921, ainda sob direção de Lênin, em substituição ao chamado "comunismo de guerra", posto em prática logo após a revolução e durante a guerra civil - restabelecia relações mercantis no campo em algumas atividades urbanas, garantindo aos camponeses que a coletivização agrícola só ocorreria por adesão voluntária.
Assim, em muitos casos, os camponeses(sobre tudo os médios e os grandes) chegaram a desfrutar de um padrão de vida superior ao dos operários urbanos.
A manutenção da NEP - defendida então por Stalin e, sobretudo, por Bukarin, que se tornara seu principal teórico - era apoiada também pela maioria do Comitê Central do PCUS.
O "bloco das oposições", liderado por Trotski e Zinoviev, defendia, ao contrário, o abandono da NEP e a adoção de uma política de industrialização acelerada, com base num rigoroso planejamento central e numa "acumulação primitiva socialista", a ser feita mediante a transferência de renda do campo para a cidade, ou seja, mediante a expropriação dos camponeses.
Gramsci se coloca abertamente, nesta carta, a favor da c0onservação da NEP, embora demonstre também preocupação com os métodos de luta interna adotados pela maioria "nepista".
É interessante observar que , depois de derrotar a oposição e expulsar Trotski da URSS, Stalin rompeu em 1929 também com Bukarin, abandonou a NEP e passou a pôr em prática algo muito semelhante ao programa de industrialização acelerada e de coletivização forçada defendido pela oposição trotskista-zinovievista.
Em conseqüência, esta o acusou de ter "roubado " o seu programa.
Stalin não hesitou em chamar de "revolução pelo alto" esta sua nova política."
Na carta Gramsci demonstra a grande preocupação dos rumos do projeto socialista iniciados e orientado por Lênin e seguidos por Trotski, Kamenev e Zonoviev, tendo em vista, que a oposição a este projeto tinha grande adesão no comando do PCS e poderia comprometer a expansão e internacionalização do Comunismo, isso mesmo o projeto era internacionalista em sua essência e fazia desta bandeira como um dos fatores primordiais para o proletariado ter seus projetos efetivados.
Link para Carta ao Comitê Central do PC da URSS de Antonio Gramsci²: Acesse aqui...
Escrita em 14 de outubro de 1926
1ª Edição: Rinascita, ano XXI, nº 22, 30 de maio de 1964.
Origem da presente transcrição: Escritos Políticos, volume 2, Editora Civilização Brasileira, Brasil 2004.
Direitos de Reprodução: © Editora Civilização Brasileira
Entretanto a voz do camarada Gramsci era de tamanha inteligência e combatividade a quaisquer projetos autoritários que passou a ser escondida, não era uma opinião simples, mas de alguém que desde dentro do Partido Comunista emitia análise críticas que buscavam enriquecer e instruir o caminho do Partido. Ainda combatia o Facismo na Itália que estava no ápice de ascensão, tão logo foi preso e tens grande parte de seus escritos realizados em cadernos na prisão.
Realizava críticas que era tão bem elaboradas tanto a ideologia Comunista e ao cenário político que suas palavras eram amargas para quem não tinham o mesmo prazer em análises críticas e o saber de ponderar opiniões diferentes. A sua escrita era em muitos casos era uma denúncia e assim o foi quando deixou claro que a política defendida por Trotski, Kamenev e Zonoviev tinha suas imperfeições, mas era o futuro necessário ao Comunismo a nível mundial.
Apesar da denúncia o plano político de Stalin foi vitorioso e como secretário geral do PCS pode congregar a maioria de apoio, após a vitória perseguiu e mandou assassinar todos os seus opositores, inclusive Trotski, Kamenev e Zonoviev, além de roubar o projeto que concorreu contra e o implementar de forma autoritária.
Este material visa destacar a importância da oposição e do respeito de opiniões independente do ambiente que coexistam, somente com tal será realizável planos que se aperfeiçoam e sejam efetivamente focados na inclusão política de toda sociedade. O exemplo é emblemático aos conhecedores dos pormenores do Comunismo dos anos 1920 a 1930, mas a análise é valiosa por ressaltar que projetos autoritários podem ser propostos em ambientes e ideologias diversas, desta forma, evitar a cultura de lacração¹ seria um bom caminho para todos as pessoas, pois mina a democracia e as chances de diálogo.
Referências:
¹ Comentários a Carta ao Comitê Central do PC da URSS de Antonio Gramsci. Arquivo Marxista na Internet. Disponível em https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1926/10/14.htm.
² Origem da presente transcrição: Escritos Políticos, volume 2, Editora Civilização Brasileira, Brasil 2004. 1ª Edição: Rinascita, ano XXI, nº 22, 30 de maio de 1964.
Sugestão complementar sobre Antonio Gramsci:
- Filme “Antonio Gramsci – Os Dias do Cárcere” (Lino Del Fran, 1977): Link...
- Arquivos Marxistas na Internet, sobre Gramsci: Link...